Sala de Estar

Josh POV
Eu pensara muito no que devia fazer, falando também com os meus amigos. Acabáramos por chegar à conclusão que as cenas entre mim e Bo não podiam ficar como estavam e eu tinha de esclarecer tudo com ela de uma vez por todas. Até porque nem sequer sabia o que se passava entre ela e o outro gajo, para ele se meter entre nós como se fosse algum cavaleiro andante. Toquei à campainha da sua casa e quando ela me abriu a porta, entrei dando-lhe apenas um abraço. Queria que ela soubesse que as cenas estavam lixadas.

Josh POV
- Sim, era exatamente disso que vinha falar contigo. Ou melhor da relação que tu e o outro gajo tinham. - Disse, aproximando-me de novo dela. Fiquei momentaneamente irado por me ter virado costas e por ter ficado a olhar para a janela. Assim, aproximei-me desta, ficando a olhar para Bo. - Que merda foi aquela na outra noite, Bo? Eu pensava que te tinha dito que não queria que se voltassem a falar.

Josh POV
- Sou o teu namorado, eu tenho algum voto na matéria! - Afirmei, exaltado e quase a gritar. Voltei a baixar o meu tom de voz e olhei-a enraivecido. - E eu sei muito bem que aquele cabrão não é só teu amigo. Eu vi como ele te olha e vi como tu retribuías o olhar. É que nem me venhas com merdas.

Josh POV
Semicerrei os olhos, com uma expressão de puro nojo na cara.
- Sua cabra do caralho! - Disparei, com os maxilares cerrados, tentando controlar-me ao máximo embora estivesse a ser impossível. - Eu sabia! Eu sabia! - Comecei a gritar e sem raciocinar peguei-lhe no queixo sem me importar com a força que fazia. - Os meus manos avisaram-se sobre ti, que eras uma autêntica pega e eu mesmo assim não lhes dei ouvidos, mas agora finalmente percebi no que me fui meter e na porra de pessoa que és. - Voltei a largar o seu queixo, empurrando-a bruscamente para trás. - Quando é que vocês dormiram juntos?

Josh POV
Eu fiquei parvo quando ele disse que tinha sido ontem, mesmo à descarada. Foi dessa vez que perdi finalmente a cabeça. Por momentos fiquei calado.
- Metes-me nojo. - Disse com a voz sem emoção, espetando-lhe um estalo na cara. - Quem pensas que és, hein? A pôr-me os cornos assim? - Voltei a dar-lhe outro estalo e de seguida agarrei no seu pescoço com força, apertando-o. - Tu não me voltas a fazer isto, ouviste? Senão mato-o. E a ti também. - Murmurei perto do seu rosto, tapando-lhe a boca para que fosse impossível de gritar. - Tu sabes do que sou capaz.

Josh POV
Eu ouvi a campainha e tapando a boca dela com mais força, esperei que quem quer que estivesse a tocar, ganhasse juízo e se fosse embora. Não queria ter de dar explicações a ninguém e a conversa entre mim e Bo ainda não tinha acabado. Não passou muito tempo até que o toque da campainha parasse. Eu sorri para ela de forma sádica.
- Parece que ninguém vem ao teu socorro hoje, sua rameira. - Voltei a dar-lhe um estalo, desta vez com muito mais força e voltei a sorrir. No instante seguinte, senti algo muito pesado embater na minha cabeça e perdi imediatamente as forças juntamente com os sentidos.

Hunter POV
Após variadas tentativas falhadas de falar com Bo, eu desisti de lhe ligar e fui logo até casa dela. Embora não fosse de carro, consegui chegar lá cedo. A casa dela tinha um carro desconhecido à porta e eu soube logo que provavelmente o gajo estava ali com ela. Comecei a tocar freneticamente na campainha para ver se as minhas suspeitas estavam acertadas e quando ninguém me abriu a porta, tive a certeza de que algo estava mesmo muito mal. Já sentia o meu interior a fervilhar de raiva quando me lembrei que provavelmente havia uma porta das traseiras. Dando a volta ao quintal da frente, dirigi-me à parte de trás da casa e tentei abrir a porta. Tal como esperara estava trancada, mas lembrei-me de procurar debaixo do tapete. Esbocei imediatamente um sorriso ao encontrar a chave e abri a porta sem pestanejar. Quando lá entrei, ouvi a voz do outro gajo e vendo um taco de basebol, soube imediatamente o que iria fazer, sem hesitar. Nem queria saber se ele fosse parar ao hospital, só sabia que era aquilo que tinha de fazer. Vi-o a apertar o pescoço de Bo enquanto ela chorava imenso. Aproximei-me dele e dei-lhe com o taco na cabeça, vendo o seu corpo desmanchar-se à minha frente sem sentidos. Eu abracei imediatamente Bo.
- Bo, estás bem?

Continuei a abraçá-la, afagando-lhe lentamente as costas à medida que a ouvia a chorar. Nem queria acreditar no que acabara de ver. Tudo isto fizera-me lembrar o meu pai mais uma vez e, pela primeira vez, fiquei contente comigo por ter conseguido impedir que isto fosse mais longe. Quando eu era demasiado pequeno, era também demasiado impotente e não podia defender a minha mãe como deve ser. Hoje tinha conseguido defender Bo.
- Shh. Vamos embora daqui. - Murmurei, tentando agarrá-la e levá-la para longe do corpo de gajo. À volta da sua cabeça, crescia agora uma poça de sangue e, por momentos, fiquei preocupado que o tivesse morto. - Temos de chamar a polícia. - Murmurei.

Eu assenti, pegando nela ao colo com cuidado e levando-a para o sofá, para longe do corpo ensanguentado dele. Virei-a de costas para ele e fiz com que ela olha-se para mim. - Eu vou ligar a polícia agora e eu não quero que te vires para trás, pode ser Bo? - A mancha continuava a crescer, empapando o chão de sangue e agora um bocado do tapete. Certifiquei-me de que ela continuava a olhar para mim e fui buscar o telefone. Rapidamente liguei para a polícia e, engolindo em seco enquanto sentia o meu coração a bater extremamente rápido, expliquei o que sucedera. A polícia garantiu-me que chegaria dentro de pouco tempo...

Desliguei pouco depois e fiquei a olhar para as minhas mãos, enquanto engolia em seco. Estas tremiam mais do que o normal e eu sabia que o que sentia não era mero nervosismo; era a confirmação do que acabara de fazer. Eu matara. Tornara-me num assassino.
Olhei para Bo que chorava convulsivamente encostada às pernas e aproximei-me dela, tentando controlar a minha respiração.
- Temos de sair daqui. Temos de ir lá para fora. - Murmurei, perto do seu rosto escondido. Voltei a afastar-me dela e estendi-lhe a mão para se levantar.

Ela agarrou-me na mão e de seguida agarrou-se a mim, enquanto eu a levava lá para fora, incapaz de dizer algo. Os polícias já haviam chegado e encontrava-se um carro da polícia e uma ambulância à porta, à medida que inúmeras pessoas vinham ver o que se passara. Eu não conhecia ninguém, mas Bo parecia conhecer e correu rapidamente para os braços de um rapaz na multidão. Eu pensei logo no seu irmão, mas antes que a pudesse acompanhar até ele, um paramédico veio até mim e pediu-me para o acompanhar. Encostei-me na ambulância sem dizer nada, talvez em estado de choque, tentando responder às perguntas que me eram feitas pelos polícias.

Pouco depois, senti algo a agarrar a minha mão e olhando para a mesma, vi que Bo entrelaçava os nossos dedos. Olhei para o seu rosto magoado enquanto eles tentavam tratar-lhe de um pequeno corte que ela tinha e tentei sorrir, embora soubesse que só conseguia fazer um simples esgar. Apertei a sua mão contra a minha e continuei a tentar responder o melhor que podia, apesar de não o querer fazer e só querer esquecer tudo aquilo.

Ela não me sorriu e rapidamente o paramédico começou a perguntar se ela estava bem. Preocupado, simplesmente fiquei a olhar para ela enquanto ela bebia a água. Pus-lhe uma mão sobre o ombro e depois comecei a ouvir rodas a rastejar pelo chão. Virei a minha atenção para o barulho e engoli em seco, vendo um saco preto com o formato de um corpo a ser levado sobre uma maca. Senti o meu mundo começar a girar e com uma súbita náusea, deixei escapar um gemido. Eu matara-o mesmo.  E, embora há pouco tempo não me importasse com o que lhe aconteceria, não tinha imaginado que isto pudesse acontecer. Eu era um assassino.