Cozinha

Juntei as sobrancelhas e não consegui evitar rir-me ironicamente. - Porque me odeias? - perguntei abanando a cabeça como se fosse óbvio. Bebi um pouco do leite que ele tinha feito e depois fiquei a olhar para aqui - não me estás a envenenar pois não? - perguntei num tom mais para mim do que para ele levantando logo o olhar na sua direcção quando falou - Não, porque é que haveria? - revirei os olhos. Não tinha nada a temer o que eu tinha dito era verdade. - Só estava a perguntar. - encolhi os ombros descontraidamente.

Revirei os olhos quando se riu e esperei que falasse, apesar de já saber porque tinha feito aquela pergunta, para dizer a verdade, nem eu sabia porque é que a tinha trazido para casa, depois do que ela tinha escrito sobre a minha irmã, o que ela merecia era ter ficado naquele estado sozinha sabe-se lá onde.
- Pois odeio.- reforcei.- mas não te ia deixar sozinha naquele estado.- encolhi os ombros.- apesar de ser isso que merecias.- olhei-a, voltando a revirar os olhos quando me perguntou se a estava a envenenar.- se fosse a ti tinha cuidado, nunca se sabe.- falei num tom irónico, indo deitar o caroço da maçã ao lixo. Aproveitei para ir ao frigorífico, tirando de lá um iogurte e voltei para o banco.- a tua sorte é que a minha irmã está mais chateada comigo do que contigo.- encolhi os ombros abanando a cabeça, ainda não conseguia perceber o porquê.

Quando aquele leite me começou a cair mal no estômago fiz uma careta dando meia volta para me preparar para ir à casa de banho, mas isso não aconteceu. - Porque se calhar o que eu escrevi é verdade - disse procurando pela minha mala. Fui até ao quarto dele e procurei-a com o olhar, quando a encontrei fui de novo até à cozinha - é por isso que ela está chateada.

Estava ainda a beber o meu iogurte quando a ouvi voltar à conversa de que o que ela tinha dito era verdade. Cerrei o maxilar e no momento em que ia abrir a boca, ela tinha desaparecido. Decidi não ir atrás dela, para não fazer barulho na zona dos quartos e quando ela voltou, eu fulminei-a com o olhar.
- Se vais começar com essa porcaria outra vez, podes dar meia volta e sair pela mesma porta por onde entraste ontem à noite.- murmurei.- não te vou aturar a insinuar seja o que for sobre a minha irmã na minha própria casa.

Olhei para o corredor e encolhi os ombros - não precisas de te incomodar a mandar-me embora eu já estou de saída e de qualquer das maneiras, obrigada pela ajuda ontem à noite - abri a porta da entrada - mas não vejo o porquê de inventar isso sobre uma pessoa que mal me conhece - disse antes de sair.

- Óptimo, não queria mesmo nada ter de te expulsar.- murmurei com um leve sorrisinho e ignorei o que continuou a dizer, fazendo apenas um gesto qualquer para que se fosse embora. Revirei os olhos mal ouvi o som da porta a fechar-se e abanei a cabeça juntamente com um suspiro exasperado, cada vez me arrependia mais de a ter ajudado. Levantei-me ao fim de algum tempo, arrumando a sua loiça e foi então que ouvi o som da campainha tocar, sensivelmente meia hora depois de ela ter ido embora.- será que se esqueceu de alguma coisa? - perguntei a mim próprio, por não estar à espera de mais ninguém e fui até lá, abrindo-a.
- Olá jeitoso.- levantei uma sobrancelha quando me deparei com Alexis, a única rapariga que também corria, e também das minhas únicas amigas.
- O que é que estás aqui a fazer? - perguntei com uma careta, por não me lembrar de termos combinado alguma coisa.
- O que é que eu estou aqui a fazer? - repetiu com uma cara escandalizada, sorrindo logo de seguida.- eu vim buscar-te.
- Temos alguma corrida de última hora? - perguntei, cada vez mais confuso.
- Não, está a haver uma festa na praia e como a Diana não quis vir, eu lembrei-me de ti.- disse, agarrando-se ao meu braço para me começar a puxar.- és o meu buddy, eu sei que não me vais deixar pendurada.- fez olhinhos.
- Alex, eu..- além de não estar com muita vontade, não podia andar a gastar dinheiro novamente nestas coisas.
- Não te preocupes, eu pago.

Desviei o olhar de Hannah, que gozava com o seu irmão, para ele e ri-me sendo dirigida até à cozinha. - Tens a certeza que posso estar aqui? - perguntei a David num tom baixo - a tua irmão não vai ficar muito alegre de me ver aqui, até pode fazer um escândalo e a tua mãe fica a pensar mal de mim. - não era novidade nenhuma, eu fazia de tudo para ser uma cabra e espalhar tudo o que acontecia por aí, mas desta vez estava a sair-me bastante bem, ou eles já estariam no meu blog.

Entrei ao lado delas na cozinha, onde a minha mãe já estava a tratar do nosso lanche, e encaminhei Savannah para um dos bancos, sentando-me no que estava ao lado do seu ao mesmo tempo que a ouvia falar só para mim.
- É óbvio que podes estar aqui.- disse, desviando toda a minha atenção para ela.- és minha convidada, ou melhor, nossa convidada.- encolhi os ombros.- e além disso, eu sei como lidar com a minha irmã, não te preocupes.- descansei-a, dirigindo-lhe um leve sorriso e depois levantei-me, para ir ajudar a minha mãe. Cortei as fatias do bolo, colocando-as em pratos e pousei duas em frente delas, bem como mais duas para mim e para a minha mãe enquanto esta tratava dos copos de leite.
- Estás a tentar impressionar a rapariga é? - a minha mãe brincou, olhando-me com um sorriso. Levantei ambas as sobrancelhas, olhando para ela, mas apenas lhe revirei os olhos, indo depois sentar-me de novo no meu lugar.

Suspirei com a resposta de David, não estava muito aliviada mas, pelo menos, sabia que me ia proteger caso ela começasse a disparatar. Se estivesse na posição dela eu fazia o mesmo, por isso não a podia julgar.
Olhei para Hannah, que estava ao meu colo abraçada a mim e beijei-lhe a bochecha. Nunca tinha tido irmãos e ela só servia para me deixar mais triste à cerca disso, a única pessoa que estava mais próxima disso era Jace, mas esse era obcecado com o trabalho e agora só via a ceguinha à frente.
Abanei a cabeça para tentar parar de pensar e desviei o olhar para David e para a sua mãe, a tempo de a ouvir perguntar-lhe se me queria impressionar. Mordi o lábio, tentando não me rir, mas quando David veio colocar tudo na mesa não consegui deixar de o picar - estás a tentar impressionar-me? - perguntei com um sorriso inocente.

Como seria de esperar, ou não se chamava ela Savannah Hill, não deixou passar em branco o que a minha mãe disse, virando-se logo para mim para me perguntar se a estava a tentar impressionar. Revirei os olhos, olhando-a pelo canto do olho e revirei-os ainda mais ao ver o seu sorriso.
- Come o bolo antes que fique frio.- resmunguei, tendo uma súbita vontade de me bater a mim próprio e ouvi a minha mãe rir.
- Devias sentir-te especial querida.- ela disse para Savannah.- ele nunca trouxe uma rapariga cá a casa.- arregalei os olhos, tendo de levar uma mão ao peito quando fiquei com o bolo entalado na garganta, o que me fez tossir. Agarrei no copo, dando logo um grande gole e olhei depois para a minha mãe, fulminando-a com o olhar.- o que foi filho? Ela é linda, não devias ficar chateado comigo.
- O mano está a ficar um tomatinho.- Hannah riu-se, batendo palminhas.

Ri-me um pouco quando resmungou comigo, como era de prever e comecei a comer, dando um bocado de bolo na boca de Hannah. Levantei o olhar para a sua mãe, quando começou a falar mim, e percebi que não vinha daí coisa boa. Quer dizer, era bom, mas constrangedor. Mordi o lábio inferior tentando evitar um sorriso, que acabou ser aparecer, e olhei para David dando-lhe uma cotovelada no braço quando começou a olhar de uma maneira má para a mãe. - A tua mãe está só a ser simpática não sejas assim - repreendi com um sorriso convencido. - E tu devias contar-lhe as novidades em vez de ficares tomatinho - imitei Hannah referindo-me ao facto de já ter trabalho.

Não era que as coisas que a minha estava a dizer fossem mentira, porque não eram, mas digamos que era escusado que ela as estivesse a dizer ali, à frente dela. Levei mais um bocado de bolo à boca, sentindo a cotovelada de Savannah e olhei-a pelo canto do olho, fazendo-lhe cara de mau a ela
- As novidades? Quais novidades David? - perguntou a minha mãe, assim que Sav me disse para contar sobre o meu novo trabalho e tanto a minha mãe como Hannah pousaram o seu olhar em mim. Revirei os olhos com um sorriso, endireitando-me no banco e bebi um pouco de leite antes de começar a falar.
- A Savannah arranjou-me emprego.- murmurei, vendo a minha mãe sorrir de imediato.- a partir de hoje, vou ser modelo.- fiz uma pequena careta, por ainda não me conseguir ver naquele trabalho.- e aproveito já para dizer que vou estar ausente durante uns dias, vamos ter uma sessão na Austrália.
- Tu? Modelo? - e pronto, já cá faltava Sarah. Cerrei o maxilar, desviando aos poucos o olhar até à porta e assim que a olhei, tive de me controlar para ignorar a sua cara de gozo.- e ainda por cima vais trabalhar com essa aí? Para isso mais valia ficares em casa.

Bati palminhas com um sorriso e ri-me de mim própria. Tinha feito uma boa acção, eles não tinham propriamente muito dinheiro e isto ia ajuda-los muito, mesmo muito. Uma sessão como a que íamos fazer juntos ia dar-lhe bastante dinheiro e, para além disso, ia lança-lo para as capas de todas as revistas. Sorri orgulhosa tanto de mim própria como dele, mas logo fiquei mais séria, ao ouvir Sarah. Preferia que ela continuasse a dormir, ou a fazer o que quer que estivesse a fazer até agora. Olhei para trás com uma expressão mais azeda pela forma como me tratou - essa aí tem nome - disse de uma forma mais seca, estava na hora de ser cabra - e para que tu saibas o teu irmão tem muito jeito escondido, talvez seja como tu - aquela frase não ia soar tão bem para ela, visto que a estava a insultar de uma forma bastante indireta.

Sinceramente, eu cada menos percebia o porquê de ela ser assim. Era verdade que nós passávamos dificuldades e que, por isso mesmo, ela não podia ter tudo o que queria, mas seria isso razão suficiente para ela se comportar como comportava?
- Sarah! - a minha mãe repreendeu, fazendo-me a mim abanar a cabeça com um suspiro e passar de forma frustrada as mãos pelo cabelo e, assim que me preparava para falar, Savannah fê-lo por mim, fazendo-me a mim olhá-la enquanto falava. Se isto tivesse acontecido no início, quando eu não podia ver Savannah nem pintada de ouro, eu tinha defendido Sarah com unhas e dentes mas agora, principalmente depois de ter descoberto tudo o que tinha descoberto, era muito bem feita que Sarah estivesse a ouvir aquelas coisas. E por falar em Sarah, assim que ouviu a última coisa que Savannah disse, ficou muito estática e calada, chegando mesmo a perder cor por instantes.
- Eu vou voltar para o meu quarto.- murmurou, num tom muito baixo e robótico e deu meia volta sobre o seu corpo, saindo pela cozinha.
- Eu peça imensa desculpa por isto querida.- a minha mãe falou para Savannah.- ela anda terrível ultimamente, eu já não sei o que fazer.- suspirou.
- Não tens de pedir desculpa mãe, aqui quem tem de pedir desculpa é a Sarah, pelas porcarias que tem feito.- e pronto, assim se estragava o bom ambiente. Ou pelo menos era isso que eu pensava até ouvir a pergunta inocente de Hannah.
- Posso comer a fatia dela mamã?

Não larguei o olhar de Sarah enquanto ela permaneceu naquela cozinha, cheguei mesmo a preocupar-me, por pensar que ia desmaiar ou qualquer coisa do género, mas como não aconteceu mais nada do que apenas uma perda de cor, deixei de me preocupar. Suspirei depois dela sair e sorri à mãe. - Não se preocupe, ela não é a primeira pessoa a não gostar de mim - disse muito sinceramente e olhei para as horas. Não tinha nada para fazer, mas depois disto era mesmo melhor ir andando. Olhei Hannah quando a ouvi falar e foi inevitável não me derreter. Ela era a coisa mais adorável de sempre. - Eu tenho que ir - disse mais baixinho.

Eu não sabia o porquê, mas de há uns meses para cá que a atitude de Sarah para connosco tinha mudado de uma forma demasiado radical. Ela não costumava ser assim, ela não costumava tratar-nos daquela maneira. Não conseguia perceber se a culpa era minha, se tinha sido eu a fazer ou a não fazer alguma coisa mas, por muito que tentasse perceber, ela também não ajudava lá muito.
- Eu gosto de ti.- despertei dos meus pensamentos, quando ouvi Hannah falar de novo, já com outra fatia no prato e olhei também para Savannah, juntando ligeiramente as sobrancelhas. Antes, quando não a conhecia, até era capaz de perceber o porquê de não se gostar dela, mas agora, nada disso fazia sentido.
- Parece-me impossível não gostar de ti, querida.- a minha mãe falou também, levantando-se para lavar o seu prato e, quando chegou a minha vez de falar, Savannah interrompeu-me, dizendo que tinha de ir embora. Abanei logo a cabeça.
- Tu nem penses que vais embora só por causa do que aconteceu.- murmurei, voltando a olhá-la.- ela era a única pessoa que tinha de se ir embora e já foi, por isso, não tens de sair daqui. Ninguém quer que vás.

Ri-me quando Hannah disse que gostava de mim e beijei-lhe a testa. Ela era tão adorável que, se estivesse mais vezes com ela, ia fazer tudo para a deixar sempre assim, contente e com um sorriso nas bochechas. Levantei o olhar até à mãe deles e sorri-lhe, ela ainda não sabia quem eu era, por isso é que gostava de mim. - Obrigada - agradeci à sua mãe, desviando o olhar para David que dizia que quem tinha que ir já tinha ido e semicerrei-lhe os olhos - ela é tua irmã David, apesar do que fez - disse a última parte num tom mais baixo - eu tenho que ir, porque ainda tenho coisas para fazer - menti, não era difícil para mim visto que a minha vida já era uma - encontra-mo-nos amanhã para a viagem - sorri-lhe. - tens que aproveitar com a tua família. Vai ser uma longa semana a aturar-me - sorri e levantei-me com Hannah ao colo, sentando-a depois na cadeira - eu vou só buscar o meu... vestido. - eu só pensava que a mãe deles não pensasse noutras coisas.

Apesar de lhe ter pedido para que ficasse, e apesar de Hannah estar a fazer o mesmo, só que agarrada ao seu pescoço, bastava-me olhar para a sua cara para saber que ia recusar o que tinha pedido. Revirei os olhos, face às coisas que me disse, mas nem sequer lhe respondi. Se havia uma coisa que eu tinha aprendido durante este tempo em que tinha convivido com ela era que quando se lhe metia uma ideia na cabeça, nada nem ninguém a conseguia demover. Bebi o que restava do meu leite, pousando logo de seguida o copo e vi-a levantar-se.
- Fica sabendo que se não tivéssemos a viagem amanhã eu te obrigava a ficar.- disse, algo mal humorado e baixei o olhar para Hannah, que me olhava com um beicinho.
- Ela já vai embora? - perguntou-me tristinha, largando o que restava da sua fatia de bolo. Suspirei, levantando-me e aproximei-me da minha irmã para lhe afagar os cabelinhos castanhos.
- Vai, ela tem de preparar as coisas para a viagem com o mano, mas ela vem cá mais vezes visitar-te, vocês são amigas agora.- disse-lhe, vendo-a apenas encolher os ombros e depois subi o olhar para Savannah, acabando por me aproximar dela.- anda, eu vou contigo buscar o vestido.- murmurei, tocando-lhe no fundo das costas para que seguisse à minha frente, mas não muito afastada.

Suspirei ao ver que não tinha deixado Hannah muito feliz, mas não podia continuar muito mais tempo ali. Não sabia porquê, mas sentia-me mal só pelo facto delas as duas gostarem de mim... eu... eu não era bem da cabeça. Estava visto. Como é que eu podia ir para psiquiatria se nem a mim me curava? Olhei para David quando disse que vinha comigo e esperei por ele. Mordi o interior da bochecha ao sentir o seu toque e o seu corpo tão perto do meu, mas contive-me até chegar ao quarto, olhando-o mal entrámos os dois. - Desculpa - murmurei - eu... elas só gostam de mim porque não me conhecem - apontei para a porta, referindo-me à sua mãe e irmã - ninguém que conhece gosta, elas não vão ser excepção.

Segui Savannah até ao quarto, fechando a porta assim que lá chegámos, para o caso de Sarah decidir sair da sua caverna ou para o caso de aparecer seja quem for e estava a virar-me na sua direcção quando a ouvi pedir-me desculpa. Juntei as sobrancelhas, ficando a olhá-la, na esperança de perceber o porquê de se estar a desculpar, e assim que terminou de falar, a minha confusão ainda aumentou mais.
- O que é que tu estás para aí a dizer Savannah? - murmurei, atrevendo-me a tocar-lhe no cabelo, afastando-o delicadamente da sua cara, para depois olhar os seus olhos.- eu gosto de ti.- sorri levemente, deslizando os meus dedos desde o seu cabelo até à sua bochecha, maxilar e, por fim, queixo.- e conhecer-te só me fez gostar mais ainda.

Juntei as sobrancelhas sentindo os seus dedos perto da minha pele e fechei os olhos com um suspiro, sem saber o que estava a dizer. Abri-os, assim que David disse que gostava de mim e senti o meu coração começar a bater muito rápido, como se estivesse a entrar em pânico, mas um pânico bom. Não sabia se ele estava a dizer aquilo por pena ou só por dizer, mas eu tinha gostado de ouvir e, mesmo que fosse mentira, eu preferia acreditar naquilo que tinha ouvido. - tu... - abanei a cabeça e mordi o interior da bochecha. Não foi um impulso, era algo que já queria ter feito há muito tempo, por isso... apenas me agarrei ao seu pescoço e juntei os nossos lábios.

Ao início, quando tinha acontecido toda aquela confusão por causa de Sarah, eu chegara mesmo a odiá-la, mas agora, depois das coisas estarem resolvidas e depois de eu ter tido oportunidade de a conhecer melhor, esse ódio tinha-se dissipado, dando lugar a outra coisa que eu ainda não tinha conseguido bem descodificar. Ela era diferente, e apesar do seu feitio difícil, havia algo nela que me atraía, e muito. Por isso mesmo, eu não estava a dizer aquelas coisas apenas para que ela ficasse melhor, ou apenas para eu ficar bem na fotografia, eu estava a dizer aquelas coisas porque era o que realmente sentia. Sorri levemente, ao vê-la fechar os olhos face ao meu toque e acariciei-lhe o queixo com a pontinha dos dedos até sentir os seus braços pousarem no meu pescoço. A partir daí, já não me preocupei em mais nada a não ser agarrar a sua cintura, de modo a puxá-la mais para mim, e colar os meus lábios aos seus, de forma a retribuir ao seu beijo. Subi uma mão até à sua bochecha, acariciando-lha durante alguns segundos e depois, subi-a até ao seu cabelo, embrenhando-a no mesmo.

Quando ele não me afastou, quando ele simplesmente correspondeu ao meu beijo, eu só não gritei porque os nossos lábios estavam colados. Agarrei-me melhor ao seu pescoço, deixando que as minhas mãos subissem pelo seu cabelo e se entrelaçassem nele. Arriscava-me a dizer que nunca tinha ficado tão feliz e aí... aí eu percebi que gostava mesmo dele. Não era apenas uma queda por ele ser bonitinho, era mesmo aquele sentimento que me fazia ficar toda arrepiada só de pensar nele.
Assustei-me com os meus pensamentos, involuntariamente me afastando dele e olhei-o durante uns segundos limpando-lhe o canto do lábio que estava sujo de batom - eu tenho que ir - murmurei sentindo-me ficar nervosa e mais nervosa a cada segundo que passava. Virei-me de costas para ele, procurando pelo meu vestido e, apesar dele estar à minha frente, cheguei mesmo a ir ao seu armário. Assim que o vi, agarrei-me a ele - desculpa, tenho que ir - disse dando a volta ao seu corpo e escapuli-me até ao corredor, fechando a porta mal saí de sua casa.

Tinha admitir que já andava com vontade de estar a fazer o que estávamos a fazer desde que nos tínhamos começado a dar melhor. E não, não era só por ela ser uma rapariga bastante bonita e atraente, era mesmo por ser ela. Não sabia o que se passava, nem sabia o que havia entre nós, mas alguma coisa tinha de ser não é? Afinal de contas, estávamos ali, só os dois, aos beijos. Apertei o seu corpo contra o meu, subindo uma mão pelas suas costas e parei na parte de trás do seu pescoço, acariciando a mesma enquanto a beijava. Pois bem, dizem que o que é bom acaba depressa não é? E foi isso mesmo que aconteceu, o beijo acabou assim que, de um momento para o outro, Savannah se afastou, com uma expressão ligeiramente assustada. Juntei as sobrancelhas, sentindo-a depois limpar-me o canto do lábio e ia abrir a boca para falar quando a ouvi dizer que tinha de ir embora.
- Embora? - perguntei confuso, virando-me para ela mal começou à voltas pelo quarto.- Savannah, olha para mim.- pedi, mas ela simplesmente não me ouviu. Porque é que eu estava com a estranha sensação de que tinha feito merda? Passei as mãos pelo cabelo, cerrando o maxilar.- desculpa, está bem? - pedi, apesar de ter sido ela a primeira a beijar-me.- não precisas de ir embora por causa disto.- continuei a falar, apesar de achar que ela não me estava a ouvir e tive a certeza disso assim que ela voltou a repetir que tinha de ir embora e apenas saiu porta fora.- Savannah! - chamei, correndo atrás dela, mas digamos que não fui a tempo, porque quando cheguei ao pé da porta, já ela tinha ido embora e, muito sinceramente, algo me dizia que era melhor deixá-la ir. Para variar um bocadinho, tinha acabado de fazer merda.