Sala

Que raiva. Nunca ninguém tinha encontrado nada, mesmo que só a minha irmã é que passasse ali tempo, porque normalmente com as gajas era só sexo e depois bazavam logo. Esperei que ela saísse do quarto para a parar. Olha-me nos olhos, por favor meu anjo...

Entrei no seu quarto e troquei de roupa o mais rápido possível, deixando a sua camisola em cima da cama. Quando estava a sair Julian apareceu à minha frente. Suspirei e olhei-o nos olhos como ele pediu.
- O que foi? - perguntei.

Toquei-lhe no rosto. Estamos bem? Ela afastou-se ligeiramente de mim. Eu não quero que tenhas medo de mim... Eu nunca te tocaria... Deixei os meus pensamentos porcos de lado.

Afastei-me ligeiramente dele quando me tocou no rosto.
- Não sei. - respondi sinceramente. - Eu não tenho medo ... - disse, mas nem eu acreditei no que disse. A verdade é que eu fiquei com um pouco de medo, não só por encontrar a droga mas também pela maneira como ele me falou.

Engoli em seco ao ouvir a sua resposta. Ela não estava segura do que dissera, notava-se pela sua voz.. Tu sabes que eu nunca te tocaria, certo meu anjo? Bela merda que eu fora fazer... Tinha que tirar a droga que tinha escondida na casa. Meu anjo, aquilo é apenas algo para uns amigos meus.... Desculpa a maneira como falei contigo...

- Sim, eu sei ... acho eu.- disse baixinho. - Mas tu também consumes aquilo quando estás com os teus amigos? - perguntei, era uma pergunta que não me saia da cabeça.

Fiquei mais feliz quando ela disse que sim, apesar da sua hesitação... Sorri divertido com a sua pergunta. Não, não consumo... Eles apenas me pedem para comprar... Aproximei-me mais um pouco dela e beijei a sua testa. Eu nunca te magoaria, não intelcionalmente e nunca deixaria alguém tocar-te... Aquele Calum ainda ia levá-las...

Suspirei de alivio quando ele disse que não consumia.
- Está bem. - disse. - Eu sei que não me farias mal. - disse olhando-o.

Sorri levemente. Claro que não, meu anjo... Beijei-lhe a testa novamente e depois as suas bochechas, e por fim a ponta do seu nariz, olhei os seus lábios durante algum tempo mas não me arrisquei a tentar.

Ri-me quando ele me beijou as bochechas e no fim a ponta do nariz. Percebi que ele depois olhou para os meus lábios, e eu, inconscientemente, mordi ligeiramente o lábio. Suspirei baixinho e acabei por falar. - Vamos tomar o pequeno-almoço? É que eu já estou a ficar com fome. - disse com um sorriso.

Houve um pequeno momento de tensão até ela falar, assenti e fui fazer algo para comermos, comemos enquanto falávamos. Depois fui deixá-la em casa, porque ela tinha coisas combinadas.
Fui ter com um amigo meu, que me ajudara a localizar Calum.

Entramos no seu carro e passado pouco tempo chegamos a sua casa. Ele abriu a porta, e de seguida entrei. Pousei os sacos das compras e sentei-me no sofá, olhei para ele e esperei que fizesse o mesmo.

Assim que chegámos a casa fomos fazer o jantar, que demorou bastante, aquela miúda ia ser o meu fim... Depois de jantarmos fomos para a sala ver o filme....
A campainha tocou imensas vezes enquanto batiam também à porta, levantei-me e dirigi-me à porta, olhei para Car, apontando para a porta do quarto.
Destranquei a porta e abri. Fiquei paralisado quando vi a minha mãe. Era a última pessoa que esperava ver por trás daquela porta. Ela abraçou-me, mas eu não correspondi ao abraço. O que é que queres? Disse-lhe muito friamente.
Julian, tinha tantas saudades tuas... Ela passou uma mão pela minha cara enquanto me olhava nos olhos. A tua irmã? Como é que ela está? Posso vê-la?
Respirei fundo e tirei a mão dela. Porque é que voltaste? Eu disse-te que nunca mais te queria perto de mim ou da Lily... Olhei para a minha mãe de alto a baixo. Estava com um ar miserável, a pele pálida e os olhos encovados... As suas roupas velhas e grandes, tinha emagrecido, mas pela primeira vez desde que eu me lembrava não cheirava a álcool.
Eu estou boa, Julian, eu curei o meu vício... Estou pronta para voltar a cuidar de vocês... A minha mãe agarrou-me as minhas mães, mas afastei-me rapidamente.
Eu disse-te para nunca mais te aproximares... Não quero saber se estás curada ou não... Já não precisamos de ti... Desaparece... Virei costas depois de apontar para a porta. Por favor Julian... Não tenho mais ninguém... A Lily precisa de uma mãe...
Olhei para Car que olhava para nós com um pouco de receio... Meu anjo, vai para o quarto já lá vou ter contigo, por favor... Assim que ela o fez, virei-me para a mulher a quem já chamara mãe.
A Lily precisa de uma mãe? Elevei o meu tom de voz. Dei uma gargalhada. Tivesses pensado nisso quando ela era um bebé e precisava de ti... Eu precisei de ti... Mas a única merda que sabias fazer era beber e fumar... Que raio de mãe prefere a bebida aos seus próprios filhos? Respirei fundo para me acalmar. A Lily não precisa de ti! Caminhei até à bancada da cozinha e bati com os punhos na mesma. Ela tem nove anos mas já age como se tivesse mais cinco anos... Tu és a culpada disso, ela teve que crescer mais depressa para puder compreender aquilo que a rodeava... Eu não tive infância por tua causa!
Vários minutos de silêncio, onde se ouvia apenas a minha respiração e o choro da minha mãe. Quando me virei ela estava no chão de joelhos a chorar. Respirei fundo e peguei nela ao colo, deitei-a no sofá e tapei-a, desliguei a televisão e caminhei até ao corredor. Amanhã vais embora... Desliguei as luzes e entrei no meu quarto, fechando a porta.

Estávamos a ver o filme, quando alguém toca à campainha. Julian foi abrir e eu segui-o com o olhar. Uma mulher entrou e abraçou-o só que ele não correspondeu. Levantei-me do sofá e fiquei a olha-los. Percebi depois que era a sua mãe, pensava que a irmã dele morava com a mãe e o seu pai. Já não estava a perceber nada.
Quando ele me pediu para ir para o quarto, assenti e caminhei até ao mesmo. Sentei-me na cama. Passado algum tempo ele entrou o quarto um pouco furioso, levantei-me e dei-lhe um beijo para o tentar acalmar.
-Julian, está tudo bem? - perguntei olhando-o.

Sentei-me na cama e levei as mãos à cabeça. Não, não está nada bem... Mas vai ficar... Eu não ia permitir que aquela mulher se aproximasse da minha irmã... Ela já passara por muita coisa, não precisava de mais... Puxei Car para o meu colo e beijei-a.

Deixei que ele me puxasse para o seu colo e retribui o seu beijo.
- Queres falar sobre isso? - perguntei olhando-o, se ele não quisesse não o ia obrigar.

Respirei fundo e olhei-a. Aviso-te que não é um assunto fácil... Beijei-lhe a testa. Depois da morte do meu pai, a minha irmã tinha apenas um ano e eu nove, a minha mãe começou a beber, ao inicio não era muito, mas passados uns meses já não havia noite em que ela não chegasse bêbada... Respirei fundo, odiava o meu passado. A melhor parte do meu dia era quando ia para a escola, não tinha que ver a minha mãe a vomitar ou a beber mais... A minha irmã ficava com a nossa vizinha, mas quando ela se mudou deixou-me sozinho com uma bebé de quase dois anos... Comecei a roubar para poder alimentar a minha irmã... Resumi um bocado a história, ela não precisava de saber das tareias que eu levara da minha mãe e muito menos do namorado dela... Assim que fiz dezoito anos saí de casa, comecei a trabalhar e quando arranjei dinheiro suficiente comprei este apartamento, comecei a mandar dinheiro todas as semanas para a minha mãe alimentar a Lily... Odiava aquela mulher por tudo o que me fizera fazer... Mas uma vez quando a visitei, a coisa que havia naquela casa era garrafas de vodka e caixas de cereais... A Lily estava tão magrinha... Eu culpo-me por isso... Devia estar lá, devia ter cuidado dela...
Olhei para outro sítio que não os olhos de Car...
Tirei-a de lá e cuidei dela, deixei que ela tivesse a vida de uma criança da idade dela... Assim que ela me disse que queria voltar à escola inscrevia num colégio... Não podia permitir que ela vivesse aqui... Não até eu conseguir bases para a criar... Respirei e olhei-a. Agora só preciso que aquela mulher assine os papeis em como renuncia a guarda total da Lily...

Ouvi com atenção o que dissera. Quando acabou abracei-o fortemente, algumas lágrimas caíram-me dos olhos, mas depressa as limpei. Nunca imaginei uma coisa destas ...
- Julian ... - disse e fiz com que ele me olhasse nos olhos. - Sinceramente, eu não sei o que dizer. Mas a tua mãe pode estar mesmo mudada. - disse. - Porque é que não lhe dás uma oportunidade? Eu acho que a tua irmã ia gostar de a conhecer. - disse olhando-o nos olhos.

Abracei e permiti-me soltar umas lágrimas, eu não era de chorar, nunca fora, só chorara na morte do meu pai e na morte de Rose... Eu não lhe vou dar um vigésima oportunidade... Eu fartei-me daquela mulher e não quero que a Lily conheça a sua verdadeira mãe, ela não se lembra e eu não tenciono que ela se lembre... Beijei-a. Vamos dormir? Levantei-me e despi-me, dei-lhe a minha camisola e deitei-me na cama.

- Oh, está bem. Tu é que sabes o que é melhor para a pequena. - disse olhando-o. - Sim, vamos. - disse e sorri quando me deu a sua camisola. Tirei a minha t-shirt e as calças e vesti a sua camisola. Deitei-me também na cama e cheguei-me para junto dele.

Assenti e puxei-a para mim. Beijei a sua testa. Obrigado.. Desliguei as luzes.

Sorri e dei-lhe um beijo.
- De nada ... Boa noite. - disse e pousei a minha cabeça no seu peito.

Beijei-lhe a testa e aconcheguei-a em mim. Boa noite, meu anjo...

Esbocei um pequeno sorriso e passado pouco tempo acabei por adormecer.

Acordei e olhei para o lado vendo Julian a dormir. Saltei para cima dele.
- Bom dia. - disse com um sorriso.

Acordei quando senti Car a mexer-se, quando me saltou para cima abri os olhos. Bom dia meu anjo.. Sorri.